Uma profissão em movimento

05/10/2011 15:06

A Revista Educação de janeiro de 2011 publica reportagem sobre a Pedagogia e suas transformações ao longo das últimas décadas, derivadas de mudanças das concepções de educação e de demandas sociais. 

Nos longínquos anos 60 e 70 do século passado havia uma grande demanda pela formação de administradores, inspetores, supervisores e orientadores para atuar no ambiente escolar. Nos anos 80, houve pouco questionamento sobre qual o perfil do pedagogo que deveria ser formado. A partir dos anos 90, registrou-se uma acentuada preocupação com a formação dos professores da educação infantil e dos primeiros anos do fundamental. Com a virada do milênio, entraram em cena discussões sobre a identidade profissional dos docentes, acrescidas de novas dimensões de sua atuação e formação, como o ensino a distância. Esse rápido painel, extraído do estudo "Fragmentos da formação e identidade do pedagogo dos anos 60 aos nossos dias", das pesquisadoras Marília Oliveira e Valéria Resende, da Universidade Federal de Uberlândia, em que as autoras analisam o temário de artigos publicados na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), ao longo de cinco décadas, dá uma pequena dimensão das mudanças ocorridas desde então no campo educacional. E, em decorrência, das oportunidades profissionais derivadas de suas práticas. 

Nesse período, as concepções de educação, os processos de ensino e aprendizagem e o currículo passaram por várias transformações, assim como a legislação e as políticas educacionais. Os impactos dessas mudanças não se limitaram à sala de aula, abrindo novas perspectivas para professores, pedagogos e, até, para profissionais de áreas afins, como psicopedagogos e fonoaudiólogos. 

Um exemplo reforça a compreensão do processo em curso. Quem tem mais de 40 anos provavelmente estudou francês na escola; hoje, o francês praticamente deixou de ser oferecido e o espanhol está ganhando espaço em virtude da lei que tornou obrigatória a oferta da língua no ensino médio a partir de 2010. Com isso, criam-se oportunidades de emprego para os graduados em letras que dominam o idioma. O mesmo ocorre com os bacharéis em música, sociologia e filosofia, que podem fazer uma licenciatura para lecionar as três disciplinas, que se tornarão obrigatórias na grade curricular a partir de 2011. 

"Apesar de aparentemente estável, o currículo escolar é muito dinâmico e completamente relacionado com o contexto social", analisa Geovana Lunardi, professora do programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Por isso, explica ela, as disciplinas entram e saem do currículo a fim de atender às demandas da sociedade e a mudanças de perspectiva dentro das próprias disciplinas. 

Esse processo é visível no caso das línguas estrangeiras. "A oferta de línguas nas escolas normalmente está relacionada à demanda das relações econômicas e políticas entre os 
países. Este é o caso do espanhol, que se tornou importante no cenário da globalização", analisa Fernanda Castelano, professora de espanhol do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). 

As relações culturais também contam, continua a especialista. "O francês foi oferecido nas escolas brasileiras por causa da tradição literária e cultural da França no Brasil e no mundo." Com a queda da influência francesa, a língua perdeu espaço - assim como ocorreu com o italiano e o alemão, obrigatórios no início do século 20. 

Para o professor de espanhol, o cenário é promissor, na opinião de Fernanda. "Em muitos lugares há falta de professores e por causa da necessidade da oferta da disciplina, estão sendo realizados concursos." As estimativas do Ministério da Educação (MEC) de 2005, quando a lei que criou a disciplina foi aprovada, indicavam que seria necessário formar 20 mil licenciados em espanhol para dar conta da demanda. A Secretaria de Estado da Educação do Paraná é um exemplo: contratou 481 professores de espanhol. 

A rede estadual paranaense também contratou 348 docentes para lecionar filosofia e 241 para sociologia. "Existe um campo aberto para professores de áreas que antes não faziam parte do currículo", afirma a supervisora da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, Alayde Digiovanni. 

Mas, reitera ela, as possibilidades para os profissionais da educação não se devem apenas às mudanças na legislação, que acarretam a inclusão de disciplinas na grade curricular. Estão vinculadas também às novas funções sociais e concepções da escola, que priorizam a diversidade e a aprendizagem. Por isso, diz a supervisora Alayde, a inclusão de disciplinas como filosofia e sociologia se deve a um projeto de escola da rede pública do Paraná e não, simplesmente, uma obrigação legal. 

De olho no aluno 
São vários os elementos que podem ser mencionados quando está em questão a nova concepção de escola - em construção, vale ressaltar. Um deles é a mudança de foco do ensino para a aprendizagem. 

"Vivemos um tempo de transformação de referências curriculares no qual não cabe ao aluno se adaptar à escola; a escola é que deve se reconstruir para atender a toda a sua comunidade", dizSueli Dib, pedagoga e consultora da Secretaria de Estado da Educação do Espírito Santo na área de novas tecnologias aplicadas à docência. 
 

Revista Educação - Ano 14 - nº 165 
(Marta Avancini)

Fonte: https://www.pedagogos.pro.br/noticia.php?a=74&c=4

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