6º Ano - Mobilismo vs. Monismo

12/05/2015 14:09

Examinaremos agora as doutrinas de Heráclito e de Parmênides e seus seguidores em termos da controvérsia entre monismo e mobilismo-marcante no século V a. C. e que pode ser tomada como uma espécie de divisor de águas quanto ao sentido e à influência do pensamento dos pré-socráticos na filosofia que se segue, sobretudo no pensamento de Platão.

https://filosofiaevertigem.files.wordpress.com/2009/03/heraclito2.jpgHeráclito de Éfeso pode ser considerado, juntamente com os atomistas, como o principal representante do mobilismo, isto é, da concepção segundo a qual a realidade natural se caracteriza pelo movimento, todas as coisas estando em fluxo. Este seria o sentido básico da famosa frase atribuída a Heráclito: Tudo passa.  Sua filosofia, tal como podemos reconstruí-la, é, entretanto, bem mais complexa do que isso. A noção de logos desempenha papel central em seu pensamento, como princípio unificador do real e elemento básico da racionalidade do cosmo.

Segundo esse filósofo “tudo é movimento, tudo está em fluxo, mas a realidade possui uma unidade básica, uma unidade na pluralidade. Esta “unidade na pluralidade” pode ser entendida também como a unidade dos opostos”. Heráclito vê a realidade marcada pelo conflito entre os opostos, conflito que, todavia não possui um caráter negativo, sendo a garantia do equilíbrio, através da equivalência e reunião dos opostos. Assim, dia e noite, calor e frio, vida e morte são opostos que se complementam.

Com sua famosa frase: “Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque o riohttps://cdn.olhares.pt/client/files/foto/big/39/398476.jpg não é mais o mesmo”. Logo, completa: “e nós também não somos mais os mesmos”, Heráclito sintetiza exatamente a ideia de realidade em fluxo, pois ao nos banharmos na água, modificamos esta; e a água do rio, nos modifica ambos tornando-se diferentes. O rio simboliza o movimento encontrado em todas as coisas, inclusive, no caso de acréscimo, em nós. A tradição da história da filosofia inaugurada por Hegel viu em Heráclito o primeiro filósofo a desenvolver um pensamento dialético, por valorizar a unidade dos opostos que se integram e não se anulam, e por ver no conflito a causa do movimento no real.  Isso caracterizaria uma espécie de dialética da natureza, embora Heráclito, ele próprio, não empregue nos  fragmentos  que  conhecemos  o  termo  “dialética”,  aparentemente  encontrado  pela primeira vez em Platão.

Parmênides e os eleatas são adversários dos mobilistas,  defendendo  uma  posição  que  podemos  caracterizar como monista, ou https://img1.imagesbn.com/p/2940015019872_p0_v1_s260x420.JPGseja, a doutrina da existência de uma realidade única. Parmênides parece de fato o introdutor de  uma  das  distinções  mais  básicas  no  pensamento  filosófico,  a  distinção  entre  realidade  e  aparência. Assim,  o primeiro argumento contra o mobilismo consiste em caracterizar o movimento apenas como aparente, como um aspecto superficial das coisas. Se, no entanto, formos além de nossa experiência sensível, de nossa visão imediata das coisas, descobriremos, através do pensamento, que a verdadeira realidade é única, imóvel, eterna, imutável, sem  princípio,  nem  fim,  contínua  e  indivisível. Outro argumento contrário à teoria mobilista é um argumento de caráter lógico, sustentando que a noção de movimento pressupõe a noção de permanência como mais básica. Nesse sentido, o movimento não pode ser tomado como mais básico, como primitivo, definidor do real.

Parmênides afirma também que “é o mesmo o ser e o pensar”, o que significa que a racionalidade do real e a razão humana são da mesma natureza, o que permite o homem pensar o ser. Mas para poder pensar o ser, conhecê-lo, o homem deve seguir o caminho da Verdade, isto é, do pensamento, da razão, e afastar-se do caminho da Opinião, formada por seus hábitos, percepções, impressões sensíveis, que são ilusórias, imprecisas, mutáveis.

 

Adaptado de: MARCONDES, Danilo. Os Filósofos Pré-socráticos: Monismo vs Mobilismo: Heráclito vs Parmênides. In: MARCONDES, Danilo. Iniciação a História da Filosofia: Dos pré-socráticos ao Wittgenstein. 6. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltfa., 1997. Cap. 2. p. 35-38.

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