6º Ano - Mobilismo vs. Monismo
12/05/2015 14:09Examinaremos agora as doutrinas de Heráclito e de Parmênides e seus seguidores em termos da controvérsia entre monismo e mobilismo-marcante no século V a. C. e que pode ser tomada como uma espécie de divisor de águas quanto ao sentido e à influência do pensamento dos pré-socráticos na filosofia que se segue, sobretudo no pensamento de Platão.
Heráclito de Éfeso pode ser considerado, juntamente com os atomistas, como o principal representante do mobilismo, isto é, da concepção segundo a qual a realidade natural se caracteriza pelo movimento, todas as coisas estando em fluxo. Este seria o sentido básico da famosa frase atribuída a Heráclito: Tudo passa. Sua filosofia, tal como podemos reconstruí-la, é, entretanto, bem mais complexa do que isso. A noção de logos desempenha papel central em seu pensamento, como princípio unificador do real e elemento básico da racionalidade do cosmo.
Segundo esse filósofo “tudo é movimento, tudo está em fluxo, mas a realidade possui uma unidade básica, uma unidade na pluralidade. Esta “unidade na pluralidade” pode ser entendida também como a unidade dos opostos”. Heráclito vê a realidade marcada pelo conflito entre os opostos, conflito que, todavia não possui um caráter negativo, sendo a garantia do equilíbrio, através da equivalência e reunião dos opostos. Assim, dia e noite, calor e frio, vida e morte são opostos que se complementam.
Com sua famosa frase: “Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque o rio não é mais o mesmo”. Logo, completa: “e nós também não somos mais os mesmos”, Heráclito sintetiza exatamente a ideia de realidade em fluxo, pois ao nos banharmos na água, modificamos esta; e a água do rio, nos modifica ambos tornando-se diferentes. O rio simboliza o movimento encontrado em todas as coisas, inclusive, no caso de acréscimo, em nós. A tradição da história da filosofia inaugurada por Hegel viu em Heráclito o primeiro filósofo a desenvolver um pensamento dialético, por valorizar a unidade dos opostos que se integram e não se anulam, e por ver no conflito a causa do movimento no real. Isso caracterizaria uma espécie de dialética da natureza, embora Heráclito, ele próprio, não empregue nos fragmentos que conhecemos o termo “dialética”, aparentemente encontrado pela primeira vez em Platão.
Parmênides e os eleatas são adversários dos mobilistas, defendendo uma posição que podemos caracterizar como monista, ou seja, a doutrina da existência de uma realidade única. Parmênides parece de fato o introdutor de uma das distinções mais básicas no pensamento filosófico, a distinção entre realidade e aparência. Assim, o primeiro argumento contra o mobilismo consiste em caracterizar o movimento apenas como aparente, como um aspecto superficial das coisas. Se, no entanto, formos além de nossa experiência sensível, de nossa visão imediata das coisas, descobriremos, através do pensamento, que a verdadeira realidade é única, imóvel, eterna, imutável, sem princípio, nem fim, contínua e indivisível. Outro argumento contrário à teoria mobilista é um argumento de caráter lógico, sustentando que a noção de movimento pressupõe a noção de permanência como mais básica. Nesse sentido, o movimento não pode ser tomado como mais básico, como primitivo, definidor do real.
Parmênides afirma também que “é o mesmo o ser e o pensar”, o que significa que a racionalidade do real e a razão humana são da mesma natureza, o que permite o homem pensar o ser. Mas para poder pensar o ser, conhecê-lo, o homem deve seguir o caminho da Verdade, isto é, do pensamento, da razão, e afastar-se do caminho da Opinião, formada por seus hábitos, percepções, impressões sensíveis, que são ilusórias, imprecisas, mutáveis.
Adaptado de: MARCONDES, Danilo. Os Filósofos Pré-socráticos: Monismo vs Mobilismo: Heráclito vs Parmênides. In: MARCONDES, Danilo. Iniciação a História da Filosofia: Dos pré-socráticos ao Wittgenstein. 6. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltfa., 1997. Cap. 2. p. 35-38.
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